Sobre-Vida
Por um trecho, assombrado
como um filme rebobinando
o mesmo trecho, passado
onde ela está lamentando
Dia após dia a fotografia
o eterno riso molhado
pelo pranto que afia
a garra em seu coração apertado
Nunca se foi a presença
velhos hábitos fortes demais
a protegendo da crença
que não o veria jamais
Mas é da noite o fantasma
sádico em sua figura
embalando-a em miasma
antigo perfume de sua doçura
A ela somente a memória
não lhe é dado o esquecimento
Se da morte fugiu em glória
em vida encontrou o tormento
A cada sol que nasce
é mais um dia pela frente
em que ele não renasce
e ela é sobrevivente
Guilherme Matos